BUÑUEL CHEGA EM DOSE DUPLA À FILMICCA NUM MÊS DE SORTE PARA QUEM GOSTA DE CLÁSSICOS E HISTÓRIAS QUEER
- Lagoa Nerd

- 5 de ago.
- 10 min de leitura
O belo ‘Sol de Inverno’ e outros 19 filmes incrementam um catálogo feito para quem ama gêneros variados e filmes de todas as partes do mundo

Se agosto é o mês do desgosto, a FILMICCA caprichou para espantar o mau presságio. Entre clássicos, filmes de gênero, personagens queer e histórias sobre ancestralidade, o cardápio mensal de estreias do streaming mais cinéfilo do Brasil traz 20 motivos para não acreditar em superstições, nem em caprichos do calendário.
E ninguém vai ter o azar de esperar muito.
Já no dia 1º tem Vittorio Gassmann na versão restaurada do original – e superior – Perfume de Mulher. E já que o assunto é este, nada melhor do que restaurar a fé no cinema com cópias novinhas de dois filmaços: o clássico do filme de assalto O Sócio do Silêncio, que chega no dia 15, e o marco do cinema etnográfico Bandidos de Orgosolo, estreia do dia 29.
O bilhete premiado chegou de patins pra quem gosta de cinema asiático: o delicado Sol de Inverno, seu protagonista fofo e suas belas imagens desembarcam no dia 8, uma semana antes da poesia silenciosa de Oeste Noroeste, no dia 15, e duas do romance proibido de Song Lang, no dia 22. Em comum, histórias queer que tiveram a sorte de ter sido contadas.
Agosto na FILMICCA tem cinema africano, jóquei brasileiro na Coreia e alienígena argentino, mas quem tirou a sorte grande mesmo foram os fãs de Luis Buñuel – dos céticos aos mais devotos – porque, este mês, o diretor chega em dose dupla: com Nazarín, no dia 8, e O Bruto, no dia 22, não tem como dar mole pro azar.

Perfume de Mulher
| Profumo di donna
| Dino Risi
| Itália, 1974
| 103 minutos, 14 anos
Quase 20 anos antes de Al Pacino ganhar o Oscar pela refilmagem norte-americana, Vittorio Gassmann já tinha encantado o mundo na pele do temperamental oficial italiano que perde a visão e, numa viagem a Nápoles, recruta um estudante como seu guia. Entre amargura, lições de vida – e de como encantar mulheres –, os dois desenvolvem uma relação de respeito e amizade que Dino Risi filma com lirismo num clássico que chega à FILMICCA numa versão restaurada. O filme italiano fez tanto sucesso que Gassmann ganhou o prêmio de interpretação masculina em Cannes e o longa concorreu aos Oscars de filme internacional e roteiro.
As Linhas da Minha Mão
| João Dumans
| Brasil, 2023
| 80 minutos, 14 anos
Um dos diretores do premiadíssimo Arábia, filmaço que também está no catálogo da FILMICCA, João Dumans faz aqui um retrato da mulher enquanto artista e da artista enquanto “louca”, onde a atriz Viviane de Cassia Ferreira reflete sobre suas experiências como criadora – e alguém que convive com questões de saúde emocional. Dividido em sete atos, usando muitos planos-sequências, o diretor deixa sua protagonista falar livremente sobre o que lhe encanta e o que lhe fragiliza – e constrói o filme a partir dos encontros que tem com ela.
Breve História do Planeta Verde
| Breve historia del planeta verde
| Santiago Loza
| Argentina/Brasil, 2019
| 75 minutos, 12 anos
Santiago Loza ganhou o Teddy, o prêmio de melhor filme LGBT do Festival de Berlim, por essa comédia de fantasia em que Tania, uma mulher trans, fica surpresa, mas não muito, quando descobre que sua avó passou seus últimos anos cuidando de um alienígena roxo de olhos pretos. Ela embarca com dois amigos até uma pequena cidade argentina para devolver a criatura para seu local de origem, enquanto enfrentam seus próprios vazios emocionais. Faz um belo par com Amigas em uma Estrada Rural, também dirigido por Loza, que faz parte do catálogo da FILMICCA.
Videophobia
| Daisuke Miyazaki
| Japão, 2019
| 88 minutos, 18 anos
Dono de uma estética ousada e experimental, o japonês Daisuke Miyazaki discute neste filme um dos maiores traumas do mundo contemporâneo, o medo da exposição. Videophobia, que volta ao catálogo da FILMICCA, acompanha uma jovem que descobre que circula online num vídeo íntimo feito sem seu consentimento. Fragilizada por causa da gravação, ela se deixa dominar pela paranoia, passa a suspeitar de quem está à sua volta e, aos poucos, vai se afastando de todos os aspectos de sua vida social.

Sol de Inverno
| Boku No Ohisama
| Hiroshi Okuyama
| Japão/França, 2024
| 90 minutos, 12 anos
Hiroshi Okuyama escreveu, dirigiu, fotografou e montou esse sensível coming of age rodado numa pequena ilha japonesa onde cresceu. É lá onde vive Takuya, um menino que se encanta pela patinação artística e por Sakura, uma jovem patinadora em ascensão. O técnico da garota, o ex-campeão no esporte Arakawa, o convida para formar uma dupla com ela para uma próxima competição. Inspirado na infância do cineasta e na letra de uma música da dupla Humbert Humbert, o filme estreou na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes e seus jovens protagonistas venceram vários prêmios de revelação do ano no Japão.
Nazarín
| Luis Buñuel
| México, 1959
| 94 minutos, 14 anos
Apesar de ateu convicto, Luis Buñuel tinha este filme, que chega à FILMICCA numa versão restaurada, sobre fé como um de seus favoritos. O protagonista é um padre que vive em voto de pobreza, sendo frequentemente passado para trás. Quando acolhe uma prostituta que cometeu um crime, Nazário infringe a lei dos homens para seguir os ensinamentos de Cristo e é obrigado a sair numa peregrinação pelo interior do México. Ele, que sempre evitou julgar seu próximo, vira alvo do julgamento alheio. Prêmio Internacional no Festival de Cannes.
Lutar, Lutar, Lutar
| Sérgio Borges e Helvécio Marins
| Brasil, 2021
| 110 minutos, 12 anos
Sérgio Borges e Helvécio Marins unem suas forças para documentar os mais de 100 anos de história do Clube Atlético Mineiro, desde sua
fundação, em 1908, até o título da Copa do Brasil de 2014, passando pela épica conquista da Libertadores de 2013. O filme apresenta um time que nasce da utopia de unir o branco e o preto, o pobre e o rico. Um documentário que transcende o futebol, e revela o DNA de uma das
torcidas mais fiéis e singulares do futebol mundial.
The Fish With One Sleeve
| Tsuyoshi Shôji
| Japão, 2021
| 34 minutos, 14 anos
Quando isso ainda não era comum – principalmente no Japão – Tsuyoshi Shôji fez questão de escalar uma atriz trans para viver a protagonista trans de seu filme. O papel ficou com a modelo Yu Ishizuka, cuja personagem se mudou do interior para Tóquio, onde fez a transição de gênero, criou um círculo de amizades e arrumou trabalho numa empresa de peixes ornamentais. Quando volta à cidade natal numa viagem de negócios, ela cria coragem e decide apresentar sua nova identidade para um ex-colega de classe por quem era apaixonada na adolescência.
Um Jóquei Cearense na Coreia
| Guto Parente e Mi-kyung Oh
| Brasil/Coreia do Sul, 2022
| 75 minutos, 10 anos
Foi por acaso. O cearense Guto Parente apresentava um filme na Coreia do Sul quando descobriu que um dos jóqueis mais famosos do país não era apenas brasileiro, mas também seu conterrâneo. Nasceu aí a ideia de registrar num documentário, dirigido em parceria com o coreano Mi-kyung Oh, as façanhas de Antonio Davielson, o nordestino atravessou o mundo com a família e se transformou em ídolo do esporte num país do outro lado do planeta, onde venceu 82 corridas no intervalo de um ano.
Oeste Noroeste
| Seihokusei
| Takuro Nakamura
| Japão, 2015
| 126 minutos, 14 anos
“Quando personagens com emoções complexas ficam frente a frente, nasce o ‘cinema’". As palavras são do diretor Takuro Nakamura, explicando sua opção por um filme com poucos diálogos. Na trama, Kei está prestes a ir morar junto com a namorada, Ai, quando conhece Naima, iraniana que estuda arte japonesa. Apesar das culturas diferentes, as duas se tornam amigas, criando uma conexão diferente de tudo o que Kei já viveu com Ai. Inspirado em experiências reais do próprio cineasta, Oeste Noroeste volta ao catálogo da FILMICCA.
Túmulo Vazio
| Das leere Grab
| Cece Mlay e Agnes Lisa Wegner
| Tanzânia/Alemanha, 2024
| 97 minutos, 12 anos
Documentário que teve sua estreia mundial no Festival de Berlim, Túmulo Vazio acompanha o jovem advogado John Mbano e sua esposa Cesilia Mollel numa missão de resgate de sua própria ancestralidade. O casal embarca para a Alemanha em busca dos restos mortais do bisavô do rapaz, com o objetivo de trazê-los de volta para casa, na Tanzânia. Songea Mbano foi um líder da etnia Ngoni, executado pelo exército colonial alemão, que teve a cabeça arrancada e levada para a Europa. Uma história de resiliência que lança luz sobre a cultura de negação da Alemanha para tentar se desviar de pecados passados.
O Bruto
| El bruto
| Luís Buñuel
| México, 1953
| 81 minutos, 16 anos
Numa provocação típica da ironia do diretor, “O Bruto”, o jovem durão, que ajuda a expulsar pessoas pobres de suas casas, cai de amores por uma garota que mora com o pai num prédio prestes a ser demolido. Realizado sob encomenda para um grande estúdio quando o diretor vivia no México, o filme é a prova que, mesmo sob os moldes de um melodrama mais tradicional, Buñuel era capaz de inserir seus comentários sociais e alfinetar a hipocrisia burguesa com sarcasmo. Versão restaurada.
Fé e Fúria
| Marcos Pimentel
| Brasil, 2019
| 104 minutos, 14 anos
Marcos Pimentel visita comunidades e subúrbios no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte para realizar uma investigação sobre o crescimento das igrejas neopentecostais e sua relação com o tráfico que comanda morros e favelas. Corajoso e provocativo, o documentário examina os “traficantes evangélicos” e mostra como a intolerância às religiões de matrizes africanas é um instrumento na busca por poder, que ajuda a explicar o momento conservador do Brasil.
Song Lang
| Leon Le
| Vietnã, 2018
| 101 minutos, 14 anos
Descrito pelo The Hollywood Reporter como “um híbrido entre Amor à Flor da Pele, de Wong Kar Wai, e Antes do Amanhecer, de Richard Linklater, este filme leva o nome de um instrumento que não apenas dita o ritmo de uma ópera folclórica moderna no Vietnã como também indica um caminho moral. Ao pé da letra, “song lang” significa “dois homens” e é, a partir dessa ideia, que o diretor desvenda a relação entre um cobrador de dívidas e o artista principal de um destes espetáculos. Premiado no Frameline, o longa de estreia de Leon Le está de volta ao catálogo da FILMICCA.
Depois das Longas Chuvas
| Baada ya masika
| Damien Hauser
| Quênia/Suíça, 2024
| 91 minutos, 12 anos
Nascido na Suíça, Damien Hauser viajou até o Quênia, terra natal de sua mãe, para contar a história de Aisha, que sonha em ir para a Europa e virar atriz. Para isso, a garota de 10 anos tem um plano: trabalhar num barco de pesca para poder viajar para onde deseja. Mas sua mãe acha que essa profissão é “coisa de homem”. As coisas começam a mudar quando o pescador Hassan decide dar umas aulas pra menina. Exibido no Festival de Londres e na Mostra de Cinemas Africanos.
O Bruto
| El bruto
| Luís Buñuel
| México, 1953
| 81 minutos, 16 anos
Numa provocação típica da ironia do diretor, “O Bruto”, o jovem durão, que ajuda a expulsar pessoas pobres de suas casas, cai de amores por uma garota que mora com o pai num prédio prestes a ser demolido. Realizado sob encomenda para um grande estúdio quando o diretor vivia no México, o filme é a prova que, mesmo sob os moldes de um melodrama mais tradicional, Buñuel era capaz de inserir seus comentários sociais e alfinetar a hipocrisia burguesa com sarcasmo. Versão restaurada.
Fé e Fúria
| Marcos Pimentel
| Brasil, 2019
| 104 minutos, 14 anos
Marcos Pimentel visita comunidades e subúrbios no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte para realizar uma investigação sobre o crescimento das igrejas neopentecostais e sua relação com o tráfico que comanda morros e favelas. Corajoso e provocativo, o documentário examina os “traficantes evangélicos” e mostra como a intolerância às religiões de matrizes africanas é um instrumento na busca por poder, que ajuda a explicar o momento conservador do Brasil.
Song Lang
| Leon Le
| Vietnã, 2018
| 101 minutos, 14 anos
Descrito pelo The Hollywood Reporter como “um híbrido entre Amor à Flor da Pele, de Wong Kar Wai, e Antes do Amanhecer, de Richard Linklater, este filme leva o nome de um instrumento que não apenas dita o ritmo de uma ópera folclórica moderna no Vietnã como também indica um caminho moral. Ao pé da letra, “song lang” significa “dois homens” e é, a partir dessa ideia, que o diretor desvenda a relação entre um cobrador de dívidas e o artista principal de um destes espetáculos. Premiado no Frameline, o longa de estreia de Leon Le está de volta ao catálogo da FILMICCA.
Depois das Longas Chuvas
| Baada ya masika
| Damien Hauser
| Quênia/Suíça, 2024
| 91 minutos, 12 anos
Nascido na Suíça, Damien Hauser viajou até o Quênia, terra natal de sua mãe, para contar a história de Aisha, que sonha em ir para a Europa e virar atriz. Para isso, a garota de 10 anos tem um plano: trabalhar num barco de pesca para poder viajar para onde deseja. Mas sua mãe acha que essa profissão é “coisa de homem”. As coisas começam a mudar quando o pescador Hassan decide dar umas aulas pra menina. Exibido no Festival de Londres e na Mostra de Cinemas Africanos.
Bandidos de Orgosolo
| Banditi a Orgosolo
| Vittorio de Seta
| Itália, 1961
| 98 minutos, 14 anos
Vencedor de 4 prêmios no Festival de Veneza, a estreia de Vittorio de Seta deveria ser um documentário, mas terminou se transformando num pilar do filme etnográfico. A trama segue um camponês acusado injustamente de matar um policial que decide fugir para as montanhas com suas ovelhas. Depois que o rebanho morre, ele volta à cidade, encontra sua família em situação de extrema pobreza e, num momento de desespero, adquire uma arma. Bandidos de Orgosolo chega à FILMICCA em versão restaurada.
Inaudito
| Danielly O.M.M e Gregório Gananian
| Brasil, 2017
| 88 minutos, 10 anos
Vencedor do prêmio de melhor filme na seção Olhos Livres da Mostra de Tiradentes, o documentário acompanha o guitarrista Lanny Gordin, figura com uma trajetória fundamental na Tropicália, onde colaborou com Gal, Gil e Caetano. O filme registra o processo de composição do músico, que hoje se dedica a música mais experimental e lida com questões de saúde mental: Lanny Gordin ouve vozes e passou um tempo internado num hospital psiquiátrico.
Dormir Assim Como Sonhar
| Yumemiru yôni nemuritai
| Kaizo Hayashi
| Japão, 1986
| 84 minutos, 14 anos
Com referências aos filmes silenciosos e ao cinema noir dos anos 50, o longa de estreia de Kaizo Hayashi mistura elementos de suspense e fantasia para contar a história do desaparecimento de uma mulher. Um detetive particular e seu assistente excêntrico são contratados por uma antiga atriz do cinema mudo para procurar sua filha. Seguindo uma sucessão de pistas bizarras, a dupla tenta desvendar o mistério.






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