Crítica | Eternidade “ que seja eterno enquanto dure”
- Lagoa Nerd
- há 13 horas
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Critica por Rapha Ritchie

Em Eternidade, a morte não representa o fim, mas o início de um novo dilema. Existe um lugar onde todas as almas recém-chegadas precisam tomar uma decisão definitiva: escolher onde e com quem passarão o resto da eternidade. E é dentro desse espaço suspenso no tempo que Joan, recém-falecida, reencontra dois homens que marcaram sua vida de formas diferentes, Larry(Miles Teller), com quem construiu uma história longa e concreta, e Luke ( Callum Turner) o amor juvenil que morreu jovem demais, preso na idealização de tudo que poderia ter sido.

A proposta do filme transforma o pós-vida em uma encruzilhada afetiva. A ideia de ter uma semana para decidir o destino da alma parece simples, mas se revela um fardo imenso quando carrega consigo décadas de memórias, afetos e arrependimentos. O tempo limitado impõe uma tensão silenciosa que atravessa cada gesto da protagonista, cada pausa, cada hesitação. Há uma contagem invisível que aperta o peito do espectador, como se cada minuto não gasto na escolha fosse um passo mais fundo no vazio da indecisão.

Elizabeth Olsen entrega uma performance que sustenta esse abismo interno com precisão e delicadeza. Sua presença carrega uma ambivalência constante entre desencanto e esperança, entre a saudade e o peso da responsabilidade. Transmite com os olhos e com o silêncio toda a dor de quem precisa fazer uma escolha impossível entre o que foi vivido e o que nunca chegou a existir.

A ambientação do filme é um campo fértil para metáforas visuais que falam sobre tempo, lembrança, luto e amor. O espaço entre mundos permite criar imagens que não precisam ser realistas, porque o que está em jogo ali não é o concreto, mas o simbólico. E nesse terreno, acerta ao tratar do pós-vida como um reflexo das decisões arrastadas durante a existência, sem necessariamente responder sobre moral, justiça ou transcendência. Não há céu ou inferno, só a solidão da escolha.

Ainda assim, a escolha narrativa de centrar toda a trama em um triângulo amoroso pode parecer estreita. Ao privilegiar o íntimo, o filme abre mão de ampliar o olhar para questões mais universais sobre o que realmente aguarda depois da morte, ou sobre os efeitos que certas decisões causam nos outros. É uma abordagem sensível, mas que corre o risco de parecer autoindulgente, quase como se o amor fosse a única coisa digna de atravessar o tempo.

E mesmo dentro dessa proposta romântica, há momentos em que o excesso de idealização flerta com a caricatura. A nostalgia pode ser tão doce quanto paralisante, e ao transformar o amor perdido em figura mitológica, o filme às vezes escorrega em uma romantização que ignora a dureza da vida real e as contradições de qualquer relação longa. O sofrimento ganha uma aura poética que nem sempre convence.

Ainda que parta de uma premissa improvável, a narrativa evoca lembranças e sensações comuns, as encruzilhadas afetivas, as memórias que insistem, as dúvidas que atravessam até mesmo o silêncio. E talvez seja esse o maior gesto do filme, convidar o espectador a revisitar o que foi vivido, o que foi deixado para trás e o que, mesmo já distante, ainda pulsa dentro daquilo que se considera eterno.
Afinal, se a eternidade é uma invenção humana, talvez ela diga mais sobre o que se teme perder do que sobre o que realmente existe do outro lado.
ETERNIDADE – A24
Estreia nos cinemas brasileiros em 4 de dezembro
Ficha Técnica:
Direção: David Freyne
Roteiro: Pat Cunnane e David Freyne
Produção: Tim White e Trevor White
Elenco: Miles Teller, Elizabeth Olsen, Callum Turner, John Early, Olga Merediz e Da’Vine Joy Randolph
Direção de Fotografia: Ruairí O'Brien, BSC, ISC
Design de Produção: Zazu Myers
Edição: Joe Sawyer
Figurino: Angus Strathie
Música: David Fleming
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