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Crítica | Eternidade “ que seja eterno enquanto dure”

Critica por Rapha Ritchie

Créditos Divulgação A24
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Em Eternidade, a morte não representa o fim, mas o início de um novo dilema. Existe um lugar onde todas as almas recém-chegadas precisam tomar uma decisão definitiva: escolher onde e com quem passarão o resto da eternidade. E é dentro desse espaço suspenso no tempo que Joan, recém-falecida, reencontra dois homens que marcaram sua vida de formas diferentes, Larry(Miles Teller), com quem construiu uma história longa e concreta, e Luke ( Callum Turner) o amor juvenil que morreu jovem demais, preso na idealização de tudo que poderia ter sido.


Créditos Divulgação A24
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A proposta do filme transforma o pós-vida em uma encruzilhada afetiva. A ideia de ter uma semana para decidir o destino da alma parece simples, mas se revela um fardo imenso quando carrega consigo décadas de memórias, afetos e arrependimentos. O tempo limitado impõe uma tensão silenciosa que atravessa cada gesto da protagonista, cada pausa, cada hesitação. Há uma contagem invisível que aperta o peito do espectador, como se cada minuto não gasto na escolha fosse um passo mais fundo no vazio da indecisão.


Créditos Divulgação A24
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Elizabeth Olsen entrega uma performance que sustenta esse abismo interno com precisão e delicadeza. Sua presença carrega uma ambivalência constante entre desencanto e esperança, entre a saudade e o peso da responsabilidade. Transmite com os olhos e com o silêncio toda a dor de quem precisa fazer uma escolha impossível entre o que foi vivido e o que nunca chegou a existir.


Créditos Divulgação A24

A ambientação do filme é um campo fértil para metáforas visuais que falam sobre tempo, lembrança, luto e amor. O espaço entre mundos permite criar imagens que não precisam ser realistas, porque o que está em jogo ali não é o concreto, mas o simbólico. E nesse terreno, acerta ao tratar do pós-vida como um reflexo das decisões arrastadas durante a existência, sem necessariamente responder sobre moral, justiça ou transcendência. Não há céu ou inferno, só a solidão da escolha.


Créditos Divulgação A24
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Ainda assim, a escolha narrativa de centrar toda a trama em um triângulo amoroso pode parecer estreita. Ao privilegiar o íntimo, o filme abre mão de ampliar o olhar para questões mais universais sobre o que realmente aguarda depois da morte, ou sobre os efeitos que certas decisões causam nos outros. É uma abordagem sensível, mas que corre o risco de parecer autoindulgente, quase como se o amor fosse a única coisa digna de atravessar o tempo.


Créditos Divulgação A24
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E mesmo dentro dessa proposta romântica, há momentos em que o excesso de idealização flerta com a caricatura. A nostalgia pode ser tão doce quanto paralisante, e ao transformar o amor perdido em figura mitológica, o filme às vezes escorrega em uma romantização que ignora a dureza da vida real e as contradições de qualquer relação longa. O sofrimento ganha uma aura poética que nem sempre convence.


Créditos Divulgação A24
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Ainda que parta de uma premissa improvável, a narrativa evoca lembranças e sensações comuns, as encruzilhadas afetivas, as memórias que insistem, as dúvidas que atravessam até mesmo o silêncio. E talvez seja esse o maior gesto do filme, convidar o espectador a revisitar o que foi vivido, o que foi deixado para trás e o que, mesmo já distante, ainda pulsa dentro daquilo que se considera eterno.


Afinal, se a eternidade é uma invenção humana, talvez ela diga mais sobre o que se teme perder do que sobre o que realmente existe do outro lado.


ETERNIDADE – A24


Estreia nos cinemas brasileiros em 4 de dezembro


Ficha Técnica:


Direção: David Freyne


Roteiro: Pat Cunnane e David Freyne


Produção: Tim White e Trevor White


Elenco: Miles Teller, Elizabeth Olsen, Callum Turner, John Early, Olga Merediz e Da’Vine Joy Randolph


Direção de Fotografia: Ruairí O'Brien, BSC, ISC


Design de Produção: Zazu Myers


Edição: Joe Sawyer


Figurino: Angus Strathie


Música: David Fleming


 


Sobre A24


A24 é uma elogiada empresa de entretenimento mundialmente conhecida por produzir e distribuir filmes, séries de televisão, música, publicações e produtos de consumo. Fundada em Nova York em 2012, a A24 reuniu um acervo de mais de 150 filmes e 50 séries de TV, ganhando reconhecimento da crítica e comercial com mais de 21 Oscars, 18 Globos de Ouro e 18 Emmys.


 


Reconhecida por sucessos inovadores como "Moonlight: Sob a Luz do Luar" ("Moonlight"), "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" ("Everything Everywhere All at Once") e "Joias Brutas" ("Uncut Gems"), assim como por êxitos na televisão como "Euphoria" ("Euphoria"), "Treta" ("Beef"), e "Ramy" ("Ramy"), a A24 desenvolveu uma base de fãs apaixonada e expandiu-se para empreendimentos como a Half Magic e o teatro Cherry Lane.


 


Os próximos projetos incluem "Coração de Lutador - The Smashing Machine" ("The Smashing Machine"), estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson e Emily Blunt; "Entre Notas e Costuras" ("Mother Mary"), estrelado por Anne Hathaway e Michaela Coel; "Se Eu Tivesse Pernas, Te Chutaria" ("If I Had Legs I’d Kick You"), estrelado por Rose Byrne e A$AP Rocky; "Marty Supreme", estrelado por Timothée Chalamet e Gwyneth Paltrow; e "The Drama" estrelado por Zendaya e Robert Pattinson.

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