Crítica | Sonhar com leões
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Crítica: Sonhar com Leões
Por: Caio Felipe (@caiofelipesp)
Distribuição: Pandora Filmes

"Sonhar com Leões" é daqueles filmes que ficam marcados na memória, não apenas pela força de sua narrativa, mas também pela delicadeza com que consegue transitar entre o trágico e o cômico. A obra, que representa um encontro raro e poderoso entre as cinematografias de Portugal e Brasil, revela-se como uma verdadeira joia contemporânea do audiovisual lusófono.
O grande coração do filme pulsa no trabalho magistral de Denise Fraga, no papel de Gilda. A atriz constrói uma personagem ao mesmo tempo vulnerável e imensa, capturando nuances emocionais que fazem o público oscilar entre lágrimas e gargalhadas. Fraga representa o Brasil com brilho e sensibilidade, entregando uma performance que carrega a força da experiência humana em sua forma mais genuína. Gilda não é apenas uma personagem, mas um reflexo de memórias, afetos e esperanças universais, capazes de dialogar com diferentes culturas.

A direção imprime um ritmo envolvente e uma encenação de notável refinamento estético, enquanto o roteiro é estruturado de maneira a costurar dor e humor em igual intensidade. Esse equilíbrio é o que dá ao filme uma humanidade arrebatadora: acompanhamos o peso das perdas, os equívocos da vida e, ao mesmo tempo, a beleza das pequenas alegrias que permanecem. O espectador encontra-se completamente vidrado, identificado com situações, sofrendo e rindo junto, mas sobretudo sendo convidado a refletir sobre o poder da memória e a urgência de celebrar cada momento.
O desfecho merece destaque como um instante contemplativo raro no cinema atual. A emoção final, conduzida de forma poética, não apenas arremata a narrativa, como também a eleva, intensificando sua dimensão inspiradora. O filme deixa no público uma sensação de esperança: de que, apesar das tragédias do cotidiano, sempre haverá lugar para o riso, para a lembrança e para a celebração da vida.

"Sonhar com Leões" já nasce importante. Foi aclamado no Festival de Gramado em 2025, onde recebeu uma bela e honrosa citação que sublinha sua qualidade artística. A pré-seleção por Portugal para representar o país no Oscar 2026 mostra também a amplitude de seu alcance internacional e o vigor desse intercâmbio cultural. É um marco para a colaboração audiovisual entre Portugal e Brasil, e um presente para os amantes da sétima arte.

"Sonhar com Leões" é, acima de tudo, uma obra que acolhe, inspira e toca profundamente. Com Denise Fraga em estado de graça e uma narrativa que combina a densidade da tragédia com a leveza do riso, o filme se firma como uma verdadeira obra-prima do cinema contemporâneo.