O Colégio Estadual Indigena Kijẽtxawê Zabelê, situado na Aldeia Kaí, no extremo sul da Bahia, foi contemplado com uma oficina de realização audiovisual pelo Programa Imagens em Movimento, que leva desde 2011 a experiência do cinema a alunos de escolas públicas.
A apresentação do filme à comunidade acontecerá no dia 18 de novembro, sábado, na primeira noite do ‘Encontro das mulheres Pataxó com as mulheres Munduruku’. Neste dia vai haver também uma roda de conversa e um awê, ritual festivo Pataxó. Durante o ano, quinze adolescentes produziram um filme que conta a história de uma jovem de origem pataxó que não se identifica com o movimento de defesa da identidade indígena, até o dia em que ouve de sua avó uma história de luta que ela viveu e venceu. A história em questão é real e foi vivida pelas mulheres pataxó da região em 2016. As gravações, que aconteceram em setembro, coincidiram com o protesto contra o Projeto de Lei 490/2007, conhecido como Marco Temporal, quando indígenas bloquearam um trecho da BA-001. Essa gravação documental faz parte do filme de ficção desenvolvido pelos jovens, que reflete sobre a conexão entre o presente e o passado e a constante necessidade de luta.
Ana Dillon, coordenadora do Imagens em Movimento, conta que sempre teve vontade de propor uma oficina de iniciação à linguagem cinematográfica para um grupo indígena. Nestes 12 anos do PIM, esta foi a primeira oportunidade. A cineasta comemora ter acontecido justamente na região do Parque Nacional do Descobrimento - onde as primeiras embarcações portuguesas chegaram em 1500.
“O povo pataxó desta região tem um histórico de confrontos e de resistência tão antigo quanto o que entendemos por Brasil. Houve períodos da História em que as aldeias da região até deixaram de existir, e as famílias indígenas tinham medo de admitir sua origem, em função do estigma social e da violência da qual foram vítimas historicamente. Nesta época, precisaram se camuflar nas cidades vizinhas. Hoje, o que vemos é um processo de reconstrução da identidade e do território pataxó. Muitas famílias estão voltando a morar nas aldeias hoje em dia,” diz Ana.
Para a diretora, as escolas indígenas têm um papel fundamental neste processo de reconstrução da identidade, ensinando, por exemplo, o idioma patxohã para crianças e adolescentes que aprenderam primeiro o português, mas sentem uma profunda identificação com a cultura indígena, mesmo se sua aparência revela uma miscigenação, fruto da diáspora.
“Eu fiquei fascinada com esta nova geração, que tem acesso a todas as informações oferecidas pela internet e aos produtos da cidade grande, mas é muito firme em relação ao senso identitário e à valorização de suas matrizes. Isso é fruto de muita luta de seus pais e de seus avós, e o filme que eles realizaram fala justamente da relação entre estas gerações: uma menina de 16 anos que descobre o percurso de luta vivido por sua avó através de uma história encantadora”, conta Ana Dillon acrescentando que, segundo diversas pessoas da aldeia, de fato, esta história aconteceu há sete anos.
O programa Imagens em Movimento é uma iniciativa da ONG Raiar (Rede de Ações e Interações Artísticas), cuja missão é promover a arte e a cultura no âmbito da educação pública, com foco em experiências criativas e artísticas vivenciadas através da linguagem audiovisual, contribuindo para o desenvolvimento de práticas educativas inovadoras no ambiente escolar. O programa nasceu no Rio de Janeiro e desde 2022 passou a alcançar outros quatro Estados, entre eles a Bahia.
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