O filme foi o grande vencedor da 29ª edição do Festival Internacional de Documentários ‘É Tudo Verdade 2024’ e apresenta a história do maior acervo etnográfico sobre povos indígenas do Brasil no mundo
Depois dos bem-sucedidos lançamentos nacionais em salas de cinemas e plataformas de streaming dos filmes Pureza (2022) e Servidão (2024), a mais nova obra cinematográfica do premiado cineasta Renato Barbieri, Tesouro Natterer, venceu em abril o prêmio do júri da 29ª edição do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade2024, na categoria Competição Brasileira - Longas e Médias-Metragens e está automaticamente classificado para apreciação à disputa pelo Oscar® do ano de 2025, que acontecerá em dezembro entre os dias 09 a 16/12. Tesouro Natterer é o primeiro filme brasiliense a concorrer ao Oscar.
O longa documental apresenta Johann Natterer, membro da Expedição Austríaca que acompanhou a então Arquiduquesa Leopoldina em sua vinda ao Brasil, em 1817. Dos integrantes da Expedição Austríaca, foi quem mais tempo permaneceu no Brasil: 18 anos. Esse período resultou em uma impressionante coleção de mais de 50 mil objetos, compondo, entre eles, o maior acervo etnográfico sobre povos indígenas do Brasil, hoje preservados em 2 dos principais museus de Viena, na Áustria, o Museu de História Natural e o Weltmuseum Wien.
O documentário aborda a hipótese de repatriação de parte das mais de 2.300 peças etnográficas pertencentes a 68 povos originários do Brasil. Tesouro Natterer pretende, por meio da Coleção Johann Natterer, fazer uma ponte entre o Brasil de hoje e o de 200 anos atrás. As únicas peças dessa imensa Coleção que ainda existiam no Brasil, cerca de 90, que foram presenteadas pelo naturalista austríaco para o imperador Dom Pedro II, se perderam durante o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018.
O que me fascina na jornada inigualável de Johann Natterer é o seu sutil processo de reumanização. Em 18 anos no país, o viajante naturalista europeu coletou mais de 50 mil peças naturais e etnográficas. Fez um total de 11 remessas para Viena e todo o material se encontra incrivelmente preservado até hoje, dois séculos depois. O Brasil praticamente desconhece esse fato”, enfatiza Renato Barbieri.
De acordo com relatos históricos levantados para a pesquisa do filme, nesse longo período, Natterer enfrentou inúmeras adversidades: variações radicais do clima, desafiantes questões de logística, convulsões sociais e doenças tropicais desconhecidas, na época, que levaram ele e sua equipe a extremos de sobrevivência.
“Nesse enfrentamento, Natterer se humanizou. Com o passar dos anos, sua escrita se tornou mais reflexiva e menos técnica, seu campo sensível começou a aflorar, superando, em parte, pensamentos supremacistas eurocêntricos”, comenta Barbieri. “Natterer se casou com a indígena Maria do Rego, com quem teve duas filhas e um filho. Ao final da expedição, se mudou com a família brasileira para Viena como um fato consumado”, complementa.
O levantamento ainda mostra que Natterer mal sabia que sua Coleção Etnográfica Indígena viria a ter um dia um papel de grande relevância na preservação da memória dos povos originários remanescentes, sendo o maior e mais antigo acervo do Brasil no mundo. Isso porque seus antepassados de séculos atrás detinham tecnologias de excelência técnica, simbólica e artística impactantes, das quais muitas se perderam, devido ao violento processo de aculturação ou deculturação desses povos ao longo dos últimos dois séculos.
Sobre Renato Barbieri
Ao longo de mais de 40 anos de carreira, Renato Barbieri tem uma extensa conexão com o cinema social de impacto. O paulista radicado em Brasília há quase três décadas, já realizou diversos filmes e séries.
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