Arte, pensamento e cosmologia em tempos de colapso: FGV Arte inauguraexposição com curadoria de Ailton Krenak e Paulo Herkenhoff
- Lagoa Nerd
- há 4 minutos
- 4 min de leitura
Mostra reúne mais de 150 obras, saberes ancestrais e grandes nomes
oriundos de diferentes regiões e gerações da arte brasileira.

A FGV Arte inaugura, em 29 de outubro de 2025, a exposição Adiar o fim do mundo, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Ailton Krenak, pensador indígena, escritor e ativista ambiental, que se tornou uma das vozes mais influentes do pensamento contracolonial contemporâneo. Coincidindo com o período da COP 30, a mostra articula arte, ecologia e filosofia em torno de um enunciado que é, ao mesmo tempo, uma advertência e um convite: adiar o fim do mundo é reinventar o presente. O evento de abertura ocorrerá na Praia de Botafogo, 190, a partir das 19h.
Inspirada na obra e no pensamento de Krenak, a exposição reúne mais de 100 obras de diferentes períodos, técnicas, suportes e contextos culturais, que abordam as urgências da crise ambiental, o legado do colonialismo, o racismo estrutural e os modos de resistência dos povos originários e das comunidades tradicionais.
Mais do que uma metáfora, Adiar o fim do mundo é uma proposição estética e política que entende a arte como instrumento de reencantamento do mundo e de reconstrução das relações entre humanos e natureza.“Não se trata de uma exposição sobre o fim, mas sobre a continuidade da vida”, afirma Herkenhoff. “A arte aqui é compreendida como um território de insurgência e imaginação, capaz de propor novas alianças entre corpo, natureza e espírito. O diálogo com Krenak nos convida a repensar o lugar da arte dentro de uma ecologia da existência.”
“Adiar o fim do mundo é um exercício de imaginação e de escuta”, observa Ailton. “Enquanto insistirmos em olhar o planeta como um objeto a ser explorado, seguiremos acelerando o colapso. A arte, ao contrário, nos chama a ouvir a Terra e a reconhecer que ela também sonha, sente e fala.”

Entre os nomes reunidos pelos curadores estão Adriana Varejão, Alberto da Veiga Guignard, Aluísio Carvão, Anna Maria Maiolino, Ayrson Heráclito, Berna Reale, Camille Kachani, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Denilson Baniwa, Evandro Teixeira, Hélio Oiticica, Ivan Grillo, Jaider Esbell, Jaime Lauriano, Marcos Chaves, Nádia Taquary, Niura Bellavinha, pajé Manoel Vandique Kaxinawá Dua Buse, Rodrigo Braga, Sandra Cinto, Sebastião Salgado, Siron Franco, Thiago Martins de Melo, Tunga e muitos outros.
O projeto ocupa todos os espaços da FGV Arte — jardins comissionados, esplanada, pilotis e galeria principal —, estabelecendo um percurso imersivo em diálogo com a arquitetura modernista e o entorno da cidade. A coletiva inclui também 11 obras comissionadas, concebidas especialmente para a mostra, de Cabelo, Cristiano Lenhardt, Daniel Murgel, Ernesto Neto, Hugo França, Keyla Sobral, Rosana Palazyan, Rodrigo Bueno, Souza Hilo e do coletivo de artistas indígenas Apinajé.
Para Herkenhoff, o encontro entre arte contemporânea e pensamento indígena é um gesto de deslocamento epistemológico: “A modernidade ocidental construiu a ideia de humanidade como centro do mundo. Essa exposição propõe um deslocamento: o humano volta a ser parte de um ecossistema simbólico e espiritual. O diálogo entre artistas como Hélio Oiticica e Denilson Baniwa, por exemplo, revela essa trama entre corpo, política e natureza”.

Krenak conclui com um alerta poético e provocador: “Precisamos inverter o discurso da sustentabilidade, abrir fendas na lógica. Se o pensamento racional não dá conta de salvar o planeta, talvez o gesto poético possa”.
Entre as iniciativas paralelas, a mostra contará com cursos profissionais e livres sobre arte, ecologia e cosmopolítica; um programa educativo que conta com a participação da educadora Gleyce Kelly Heitor, acompanhado de um caderno de atividades desenvolvido pelo artista Gustavo Caboco; a segunda edição do Festival Criar Mundos, voltado para crianças e jovens.
Programa acadêmico e educativo
A exposição inclui, ainda, um abrangente programa de visitação e formação de público, com mais de 100 escolas públicas já agendadas, oficinas mensais com artistas participantes e uma oficina especial com os indígenas Apinajé. A abertura, em 29 de outubro, contará com a presença de Ailton Krenak, que também participará de uma fala pública com convidados em data posterior.
Durante a temporada da exposição, A FGV Arte realizará o ciclo de conferências Antropoceno e emergência climática: quando a ciência e a arte se encontram, reunindo especialistas nacionais e internacionais para discutir, sob múltiplas perspectivas, os desafios da crise climática. A iniciativa começa em 27 de outubro, com a palestra do pesquisador belga François Gemenne, sobre o financiamento da transição ecológica, em parceria com o Consulado da França.
Assim, Adiar o fim do mundo afirma-se como um manifesto visual pela vida em tempos de crise, em que a arte atua como linguagem de resistência, gesto de esperança e convocação ao cuidado com a Terra — organismo vivo, casa comum e horizonte possível.
Sobre a FGV Arte
Localizada na sede da FGV, em Botafogo, no Rio de Janeiro, a FGV Arte é um espaço voltado à valorização, à experimentação artística e aos debates contemporâneos em torno da arte e da cultura, buscando incentivar o diálogo com setores criativos e heterogêneos da sociedade, dividindo-se em três eixos principais: exposições, publicações e atividades educacionais – acadêmicas e práticas. Tem como curador chefe, o crítico Paulo Herkenhoff.
SERVIÇO:
Adiar o fim do mundo
Curadoria: Ailton Krenak e Paulo Herkenhoff
Abertura: 29 de outubro de 2025 - 19h às 21h
Encerramento: 21 de Março de 2026
Local: FGV Arte | Esplanada da Fundação Getúlio Vargas End: Praia de Botafogo, nº 186 – Botafogo
Rio de Janeiro | RJ Tel: (21) 3799-5537
Horários de funcionamento:
De terça a sexta, das 10h às 20h Sábados e domingos, das 10h às 18h
Entrada gratuita | Classificação livre


