Capitão América: Admirável Mundo Novo I Em busca do novo, Marvel ainda soa como velho.
- Pablo Escobar
- há 2 dias
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Com Capitão América: Admirável Mundo Novo, a Marvel Studios se encontra em um ponto de virada. O filme marca a estreia de Sam Wilson (Anthony Mackie) como o novo Capitão América em seu primeiro longa-metragem solo, tentando consolidar uma nova era após o legado de Steve Rogers. O longa, porém, apresenta uma mistura de acertos pontuais e tropeços frustrantes — tanto no desenvolvimento de sua trama quanto na construção de seu universo.
Entre os maiores acertos do filme está a escalação de Harrison Ford como Thaddeus “Thunderbolt” Ross. Ford entrega uma performance contida, porém cheia de autoridade e nuances. Mesmo sem muitas cenas de ação, seu personagem emana um peso político e dramático que ajuda a ancorar a história em uma realidade mais crua, remetendo ao tom mais sóbrio de Capitão América:
O Soldado Invernal. Ford substitui o falecido William Hurt com respeito e presença, elevando cada cena em que aparece.
Anthony Mackie, por sua vez, mostra mais uma vez que tem carisma e talento para liderar o MCU. Seu Sam Wilson ganha uma profundidade maior neste filme, lidando com as expectativas e a responsabilidade de ser o novo símbolo da América. A atuação de Mackie é sincera, com momentos emocionantes que refletem sua jornada pessoal e política — algo que os roteiristas exploram de forma acertada, ainda que por vezes de forma didática.
Infelizmente, o roteiro de Admirável Mundo Novo sofre com problemas de ritmo e excesso de subtramas mal resolvidas. Um dos maiores desperdícios é o personagem de Giancarlo Esposito. Conhecido por sua imponência e intensidade dramática, Esposito é reduzido a um antagonista genérico, com motivações vagas e presença limitada. Sua introdução parecia prometer uma nova ameaça memorável no MCU, mas o roteiro não lhe dá espaço para crescer ou deixar uma impressão duradoura.
Há também uma sensação de desconexão narrativa — como se o filme estivesse tentando costurar pontas de diversas séries e filmes anteriores, sem conseguir desenvolver nenhuma plenamente. Essa fragmentação enfraquece o impacto emocional e dilui a força dos temas centrais, como identidade, poder e legado. O longa na verdade soa mais como uma continuação do ultimo filme solo do Hulk (2008), filme que na época foi lançado pelo Universal.

Tecnicamente, o filme é bem executado, ainda que não inovador. A direção de arte se destaca por apresentar um mundo mais urbano e político, refletindo tensões sociais contemporâneas. As locações variam entre paisagens metropolitanas densas e espaços militares minimalistas, compondo bem a atmosfera de um thriller político com toques de espionagem.
A fotografia, embora competente, segue o padrão estético do MCU: segura, mas pouco ousada. Não há grandes experimentações visuais ou planos marcantes, como nos longas anteriores desse personagem, (Soldado Invernal, Guerra Civil) o que torna a experiência visualmente previsível. A trilha sonora, composta por Henry Jackman, tenta remeter às composições de O Soldado Invernal, com tons percussivos e tensão crescente, mas carece de temas memoráveis que realmente fiquem na cabeça do público.

Admirável Mundo Novo é um reflexo claro da encruzilhada em que a Marvel se encontra. A tentativa de renovar o universo com novos heróis esbarra em uma saturação narrativa e na pressão de manter um público já fragmentado após o fim da Saga do Infinito. A transição para uma nova geração de Vingadores precisa de histórias mais coesas, personagens melhor desenvolvidos e, acima de tudo, uma direção criativa mais ousada.
A presença de atores talentosos como Ford, Mackie e Esposito é promissora, mas de pouco adianta se os roteiros não acompanharem esse nível. A Marvel ainda tem um público fiel, mas precisa urgentemente redefinir seu propósito e encontrar um novo equilíbrio entre espetáculo e substância.
Capitão América: Admirável Mundo Novo é um filme com intenções nobres e atuações sólidas, mas que tropeça em sua execução. Um passo importante para o MCU pós-Steve Rogers, mas que ainda não encontra o tom ideal. Se o futuro da Marvel quer ser realmente admirável, precisará mais do que nostalgia e conexões com o passado — precisará coragem para contar boas histórias novamente.
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