CRÍTICA | O Fugitivo I Thriler e ação na medida perfeita, um marco no cinema
- Pablo Escobar
- 16 de mai.
- 3 min de leitura

Lançado em 1993, O Fugitivo (The Fugitive) consolidou-se como um dos thrillers mais emblemáticos da década de 1990. Dirigido com precisão por Andrew Davis, o filme é uma adaptação da série de televisão homônima dos anos 1960 e trouxe uma abordagem moderna, densa e emocionalmente ressonante à clássica narrativa do homem inocente em fuga.
A trama segue o Dr. Richard Kimble (Harrison Ford), um respeitado cirurgião de Chicago que é falsamente acusado do assassinato de sua esposa. Após uma fuga espetacular de um ônibus prisional acidentado, Kimble inicia sua busca obsessiva pelo verdadeiro assassino, enquanto é incansavelmente perseguido pelo agente federal Samuel Gerard (Tommy Lee Jones), um homem igualmente obstinado em sua missão.
A narrativa se apoia em dois pilares clássicos: a injustiça e a obstinação. Kimble não é apenas um fugitivo — ele é um homem devastado por uma perda irreparável, movido tanto pelo desejo de inocentar-se quanto pelo luto mal resolvido. Gerard, por outro lado, representa a frieza e a estrutura do sistema, mas vai gradualmente revelando uma humanidade surpreendente. A dualidade entre caçador e caçado se transforma, ao longo do filme, em uma dança moral mais complexa, questionando o papel da lei, da verdade e da empatia.

O filme brilha especialmente pela combinação de ritmo narrativo tenso e atuações marcantes. Harrison Ford entrega uma performance visceral, contida e honesta. Seu Kimble não é um herói clássico, mas um homem comum em circunstâncias extraordinárias. Tommy Lee Jones, por sua vez, entrega um dos papéis mais marcantes de sua carreira, ganhando inclusive o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Seu Gerard é ao mesmo tempo inflexível e carismático, com falas afiadas que equilibram o peso dramático com um tom sardônico.
Tecnicamente, Davis conduz a ação com clareza e impacto, utilizando locações reais — como a icônica perseguição na represa, que dão ao filme um senso palpável de perigo e realismo. A montagem é dinâmica, sem sacrificar a coesão narrativa, e a trilha sonora de James Newton Howard reforça a tensão emocional sem ser intrusiva.
Se há um ponto onde o filme se mostra menos ousado, é em sua previsibilidade estrutural. A história segue certos arcos narrativos esperados, o que pode reduzir o impacto para um público mais acostumado com reviravoltas mais ousadas.
Além disso, alguns personagens secundários, como os colegas médicos e os conspiradores por trás da armação, são tratados com superficialidade, funcionando mais como peças de enredo do que como figuras complexas.
O Fugitivo foi um sucesso estrondoso de crítica e bilheteria. Arrecadou mais de US$ 360 milhões mundialmente e foi indicado a sete Oscars, incluindo Melhor Filme — uma raridade para thrillers de ação. O público reconheceu no filme uma rara combinação de inteligência, emoção e adrenalina. Ele se destaca, mesmo hoje, como um exemplar de como um blockbuster pode ser sofisticado.

Ao final do filme, quando Richard Kimble finalmente se vê livre da acusação, não há grande catarse, não há euforia. Apenas o exausto reencontro consigo mesmo. O silêncio de Kimble diz mais do que qualquer fala: um homem que perdeu tudo, reconstruiu sua verdade e agora precisa, sozinho, reaprender a viver sem a mulher que amava — e sem a raiva que o moveu até ali.
Kimble permanece em nós como símbolo de resistência, mas também de vulnerabilidade. Ele não venceu uma guerra, apenas sobreviveu a ela. E é nessa fragilidade que o filme se torna eterno.
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