Crítica | Se Não fosse você " forte apelo comercial faz adaptação perder autenticidade"
- Lagoa Nerd
- há 7 horas
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*Crítica por Fabrício Belvederes

Um dos romances mais celebrados de Colleen Hoover ganhou adaptação para os cinemas, produzida pela própria autora e dirigida por Josh Boone, com um elenco repleto de nomes queridinhos do momento: Mason Thames, McKenna Grace, Alison Williams e Dave Franco.
A trama acompanha Morgan Grant, que engravidou na adolescência e se casou aos dezessete anos. Anos depois, a relação com a filha, Clara Grant, é no mínimo conturbada — e tudo se complica ainda mais quando uma revelação chocante e um acidente colocam as duas em um turbilhão de sentimentos.

Paralelamente, Clara precisa lidar com os sentimentos recém desenvolvidos por Miller Adams, um colega de escola que não é visto com bons olhos pelos pais da garota. O longa chega com a missão de agradar tanto à legião de fãs de Colleen Hoover —composta por milhares de entusiastas ao redor do mundo — quanto a novas audiências que estão tendo seu segundo contato com uma adaptação da autora (a anterior foi É Assim que Acaba).
O estilo é inconfundível: uma narrativa dramática regada a romance, com personagens traumatizados que enfrentam escândalos e conflitos quase novelescos, criados por uma mente que adora provocar choque — antes nos leitores, agora nos espectadores. Porém, assim como acontece nos livros de Hoover, o filme exibe um forte apelo comercial.

Parece que cada take foi pensado para gerar um único resultado: um produto mais interessado em vender do que em emocionar. Isso não é necessariamente um defeito —afinal, todo filme é também um negócio —, mas quando o lucro se sobrepõe à alma da produção, o resultado perde um pouco de autenticidade.
Esse aspecto fica evidente na escalação de atores em ascensão, claramente pensada para atrair o público jovem. McKenna Grace, por exemplo, ficou conhecida por interpretar a Capitã Marvel na infância e será destaque em Amanhecer na Colheita, da franquia Jogos Vorazes. Já Mason Thames vive um ótimo momento com o live-action de Como Treinar o Seu Dragão e a sequência de O Telefone Preto. A fórmula comercial ainda aposta em dois veteranos: Dave Franco, de Truque de Mestre e Nerve, e Allison Williams, conhecida por
Corra! e M3GAN.

O apelo hollywoodiano também se manifesta na estética do filme. Em uma história marcada por traumas e sofrimento, as personagens aparecem sempre maquiadas e praticamente sem lágrimas — um contraste gritante com o material original e que quebra a ilusão de dor que deveria envolver o espectador.
Não que as atuações estejam ruins; pelo contrário, todos estão confortáveis e convincentes em seus papéis. O problema está mais na produção e direção, que parecem suavizar o conteúdo para torná-lo mais vendável.

Em busca de um visual mais bonito e de um tom mais leve, Se Não Fosse Você acaba diminuindo parte de sua carga dramática, transformando momentos de dor em cenas quase românticas. O resultado é um filme que poderia facilmente ser exibido em uma “sessão da tarde”, vendido como uma narrativa leve e familiar — algo que definitivamente destoa de alguns acontecimentos pesados da história.
Apesar dessas escolhas, a adaptação permanece fiel à essência do livro e deve agradar tanto aos fãs de Colleen Hoover quanto a quem aprecia um bom romance dramático. Não é um filme ruim, mas, pela forma como foi concebido, funciona melhor como entretenimento do que como reflexão
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