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Foto do escritorPê Dias

Crítica | We live in time: "O que fazer com todo o tempo que temos?"


Todo tempo que temos
Todo tempo que temos

A palavra subjetividade tão frequente na psicanálise e provavelmente em vários tópicos das ciências humanas, possivelmente nos indique que uma  das coisas mais legais em se viver e conviver é o quanto de pontos de vista uma história/estória pode ter.

Como aquela narrativa nos move, nos paralisa, mexe com tudo dentro de nós e no outro, que é tão diferente da gente.  Não, não falo aqui das famigeradas fake news, seria um outro patamar de discussão. Muito provavelmente a maior parte das críticas sobre o filme Todo o Tempo de Temos (We Live in Time, Reino Unido/França, 2024) faz questão de dizer que essa estória que assistimos na tela já foi contada de diversas maneiras, quase todas de forma lacrimejante. E foi. 

É perceptível que o roteirista (Nick Payne) subverteu  em algum nível, se não todos ao menos muitos, os clichês possíveis de um filme onde temos a possibilidade de uma morte iminente, um desejo potente de aproveitar o tempo por restar, as concessões que o amor romântico nos proporciona e a superação ou não dos obstáculos em nome desse mesmo amor. A cronologia não-linerar da estória que, se chega a nos confundir, não por muito tempo, é um exemplo dessa subversão.


todo tempo que temos
todo tempo que temos

Assim como as pequenas menções sobre um câncer que está em recidiva ou sobre a bixessualidade da protagonista, este última, naturalizada de forma acertada pelo roteiro. São detalhes que contextualizam um pouco o passado dos personagens, mas introduzidos de forma rápida sem que tire o foco do momento presente. É preciso viver o momento presente.

Muito da força desse pequeno filme vem da dupla de  protagonistas Almut e Tobias, Florence Pugh e Andrew Garfield respectivamente. Sem o carisma deles e a química, muito do filme se perderia, além é claro de ótimas interpretações, considerando que se trata de personalidades bastante díspares, ela representando a mulher moderna focada numa carreira bastante disputada, inteligente, engraçada, afetuosa e pragmática e; o Tobias um moço-família que transborda doçura e humor também. Gosto muito de filmes cujos coadjuvantes tornam a obra mais cheia de vida, mesmo que em pequenas participações e isso acontece aqui. 

O filme não consegue evitar todos os clichês do gênero, e isso não é de todo ruim, quem não gosta ou precisa de um clichê de vez em quando? Mas não compromete o desenvolvimento do filme e nem o  resultado final.

Um bom filme que me surpreendeu, que te deixa no caminho do cinema pra casa pensando em como, com a certeza da nossa finitude, podemos fazer da nossa pequena rotina uma vida nem exatamente feliz ou triste, mas interessante.

PS: a tradução literal do título em inglês (We live in time -  nós vivemos o tempo) ao meu ver, seria bem mais apropriado, afirmando que é isso que os personagem decidiram fazer, viver O tempo.


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