DISTRIBUÍDO PELA EMBAÚBA FILMES, ‘YÕG ÃTAK: MEU PAI, KAIOWÁ’ GANHA TRAILER OFICIAL
- Lagoa Nerd
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Novo filme de Sueli Maxakali retrata reencontro entre pai e filhas indígenas após quatro décadas de separação forçada pela ditadura militar

A EMBAÚBA FILMES acaba de lança o trailer do documentário YÕG ÃTAK: MEU PAI, KAIOWÁ, dirigido por Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna. O filme acompanha a jornada de reencontro entre Sueli Maxakali e seu pai, Luiz Kaiowá, de quem foi separada ainda bebê durante a ditadura militar.
O longa lança luz sobre a violência do Estado contra os povos indígenas naquele período, capítulo da ditadura pouco retratado no cinema até então. “São memórias que o cinema nos dá uma chance de revisitar e que podem assim ser jogadas na cara do povo brasileiro de uma certa forma”, afirma o etnólogo e cineasta Roberto Romero em entrevista à Agência Brasil.
No início dos anos 1960, Luiz Kaiowá, indígena guarani kaiowá, deixou o território tradicional de Ka'aguyrusu, em Mato Grosso do Sul, em uma longa caminhada com outros parentes. Após passarem por São Paulo e Rio de Janeiro, foram levados à força até Minas Gerais por agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Luiz viveu mais de 15 anos entre os Tikmũ’ũn (Maxakali), onde teve duas filhas: Maiza e Sueli. Quando Sueli tinha apenas dois meses de idade, Luiz foi reconduzido ao Mato Grosso do Sul e nunca mais voltou. Décadas depois, graças a encontros políticos e à chegada da internet nas aldeias, Sueli localizou o pai com ajuda de duas primas, e logo depois iniciou, com apoio de aliados, a construção do filme como forma de concretizar esse reencontro.
Uma série de mensagens, telefonemas e vídeos trocados entre os protagonistas antecederam a produção. Em fevereiro de 2019, Luiz Kaiowá foi surpreendido com uma vídeo-carta de suas filhas maxakali. Só três anos depois, em 2022, é que uma delegação maxakali pode percorrer os mais de 1800 km de distância que separam a Aldeia-Escola-Floresta, em Minas Gerais, das Terras Indígenas (TIs) Panambi-Lagoa Rica, Panambizinho e Laranjeira Ñanderu, em Mato Grosso do Sul, para descobrir o paradeiro de Luiz – hoje, um dos mais importantes xamãs de seu povo.
“Foi muito emocionante, eu chorei muito. Eu queria mostrar a verdade”, conta Sueli em entrevista ao portal Feito por Elas. Com produção coletiva e imersão nas realidades de dois povos indígenas, o filme registra os preparativos na Aldeia-Escola-Floresta, onde vive Sueli, e nas aldeias guarani kaiowá, onde vivem Luiz e alguns de seus parentes. “Não é só um filme. São nossos encantados, nossos rituais, que dão a força para chegar até aqui”, resume Sueli.
“O filme se contenta com as versões, que são muito mais ricas do que qualquer tentativa frustrada de reconstituir os fatos”, comenta a diretora Luisa Lanna. “O espectador aprende a ver o filme enquanto assiste - um aprendizado que se dá pela escuta, pela duração dos planos, pelas formas de elaboração da palavra”.
Falado nas línguas maxakali, guarani kaiowá e português, o longa é atravessado pelos cantos tradicionais destes povos, enfocando também as lutas enfrentadas por eles em defesa de seus territórios e de seus modos de vida. As pesquisas e as filmagens também ocorreram nos territórios dos dois povos, contando com a participação de outros cineastas indígenas além da dupla Sueli e Isael – como Alexandre Maxakali, que atuou na fotografia do filme, e as realizadoras Michele Kaiowá e Daniela Kaiowá, responsáveis pela direção assistente e fotografia junto ao seu povo.
Comemorado em festivais e pela crítica, YÕG ÃTAK: MEU PAI, KAIOWÁ tem se destacado como um expoente do cinema indígena contemporâneo. No 57º Festival de Cinema de Brasília, onde fez sua estreia em novembro de 2024, o longa levou o prêmio de melhor direção; já na 14ª Mostra Ecofalante de Cinema Socioambiental, em junho de 2025, recebeu menção honrosa do júri na categoria longa-metragem. Ele também foi exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes e no X Festival de Documentários de Cachoeira. Em sua resenha sobre o filme, o Coletivo Crítico destaca a delicadeza e a originalidade formal do longa: “A imagem é crua, precária, mas transborda afeto e um caráter enigmático que cativa e é ímã ao espectador. Um porta-retrato se constrói diante dos nossos olhos para representar toda uma história familiar”. Já o Papo de Cinema afirma que o filme “marca uma tendência positiva do cinema brasileiro recente: histórias de alto valor para os povos indígenas contadas por eles mesmos, em parceria com realizadores sensíveis ao seu tempo, espaço e ritmo”.
Sinopse:
YÕG ÃTAK: MEU PAI, KAIOWÁ conta a busca de Sueli Maxakali e Maísa Maxakali pelo pai, Luis Kaiowá, de quem foram separadas durante a ditadura militar no Brasil. O filme acompanha a jornada da cineasta para reencontrar o pai, bem como as lutas enfrentadas pelos povos indígenas Tikmũ’ũn e Kaiowá em defesa de seus territórios e modos de vida.
Ficha Técnica
YÕG ÃTAK: MEU PAI, KAIOWÁ
(2024 | Brasil | 94 min | Documentário)
Direção: Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero, Luisa Lanna
Direção assistente: Daniela Kaiowá, Michele Kaiowá
Roteiro: Sueli Maxakali, Roberto Romero, Tatiane Klein e Luisa Lanna.
Produção: Escola Aldeia Floresta, Batráquia Filmes, Filmes de Quintal, Javali do Mar
Direção de fotografia: Bené Machado, Sueli Maxakali, Michele Kaiowá, Daniela Kaiowá e Alexandre Maxakali
Som direto: Bruno Vasconcelos, Maru e Vitor Zan
Montagem: Luisa Lanna
Tradução: Alexandre Maxakali, Roberto Romero, Tatiane Klein, Michele Kaiowá e Daniela Kaiowá
Distribuição: Embaúba Filmes
Estreia nos cinemas: 10 de julho de 2025
País: Brasil
Idioma: Maxakali, Kaiowá, Português (com legendas)
Classificação: não recomendada para menores de 12 anos
Elenco: LUIZ KAIOWÁ, JAIRO BARBOSA, MICHELE KAIOWÁ, QUENIO VERGA CONCIANZA, GERMANO LIMA ALZIRO, JURACI MAXAKALI, DELCIDA MAXAKALI, CASSIEL MAXAKALI, CLARA BARBOSA DE ALMEIDA, EMILIANA BARBOSA, OLÍMPIO ALMEIDA, CLAUDILENE JORGE ALMEIDA, HILDA BARBOSA DE ALMEIDA, RICARDO JORGE, NEUSA CONCIANZA JORGE (IN MEMORIAM), EZEQUIEL JOÃO, ADELAIDE JORGE (IN MEMORIAM), DETINHA MAXAKALI, RUAN MAXAKALI, NICOLE MAXAKALI, ISAIANA MAXAKALI, ARLANE JORGE JOÃO, GISLAINE PEDRO FERREIRA, DANIELA KAIOWÁ, SUELI MAXAKALI, ISAEL MAXAKALI, MAÍSA MAXAKALI.
SOBRE OS DIRETORES
SUELI MAXAKALI
Sueli Maxakali é doutora em Letras: estudos literários (Notório saber) pela UFMG, cineasta, professora e multiartista. Dirigiu o curta Yãy tu nũnãhã payexop: encontro de pajés e co-dirigiu os longas Quando os yãmĩy vêm dançar conosco (2011), Yãmĩyhex: as mulheres-espírito (2019) e Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa! (2020). Publicou o livro de fotografias Koxuk Xop Imagem (Beco do Azougue Editorial, 2009). Foi artista convidada da 43ª Bienal de Arte de São Paulo e do 7º CURA – Circuito de Arte Urbana de Belo Horizonte. Em 2020, liderou um movimento de mais de cem famílias do povo Tikmũ’ũn-Maxakali na luta por uma nova terra. Em 2021, estas famílias retomaram um território ancestral na região de Itamunheque (Teófilo Otoni, MG), onde criaram a Aldeia-Escola-Floresta, projeto de arte, educação e agroecologia.
ISAEL MAXAKALI
Isael Maxakali é doutor em Comunicação (Notório saber) pela UFMG, cineasta, professor e artista visual. Dirigiu os filmes “Tatakox” (2007); “Xokxop pet” (2009); “Yiax Kaax – Fim do Resguardo” (2010); “Xupapoynãg” (2011); “Kotkuphi” (2011); “Yãmĩy” (2011); “Mĩmãnãm” (2011); “Quando os yãmĩy vêm dançar conosco” (2011); “Kakxop pit hãmkoxuk xop te yũmũgãhã” (“Iniciação dos filhos dos espíritos da terra”, 2015), “Konãgxeka: o Dilúvio Maxakali” (2016) e “Yãmĩyhex: as mulheres-espírito” (2019) e Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa! (2020). Foi duas vezes professor do Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG. Em 2020, venceu o Prêmio PIPA on-line, uma das principais premiações de arte contemporânea no Brasil.
ROBERTO ROMERO
Roberto Romero é doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional (UFRJ), membro da Associação Filmes de Quintal e um dos organizadores do forumdoc.bh – festival do filme documentário e etnográfico de Belo Horizonte. Foi assistente de direção do longa “Yãmĩyhex: as mulheres-espírito” (Sueli e Isael Maxakali, 2019) e co-diretor de Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa! (2020) e “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá” (2024).
LUISA LANNA
Luisa Lanna é graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestranda no Programa de Pós Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ). Atua como montadora, educadora e diretora audiovisual. Se dedica ao ensino e à prática de cinema junto a comunidades indígenas. Faz parte do Coletivo Guahu’i Guyra (Encanto dos Pássaros) da retomada Tekoha Guayvyry (Guarani e Kaiowá), no qual atua como professora e colaboradora artística. Foi montadora do filme “Yamiyhex: mulheres espírito” (Dir. Sueli Maxakali e Isael Maxakali). Co-dirige o longa metragem “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá” (2024).
SOBRE A EMBAÚBA FILMES
A Embaúba Filmes é uma distribuidora especializada em cinema brasileiro, criada em 2018 e sediada em Belo Horizonte. Seu objetivo é contribuir para a maior circulação de filmes autorais brasileiros. Ela busca se diferenciar pela qualidade de seu catálogo, que já conta com mais de 50 títulos, investindo em obras de grande relevância cultural e política. A empresa atua também com a exibição de filmes pela internet, por meio da plataforma Embaúba Play, que exibe não apenas seus próprios lançamentos, como também obras de outras distribuidoras e contratadas diretamente com produtores, contando hoje com mais de 500 títulos em seu acervo, dentre curtas, médias e longas- metragens do cinema brasileiro contemporâneo.
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