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Crítica |Loucos de Paixão (White Palace), 1990

Loucos de Paixão
Loucos de Paixão

Poucos romances me tocaram tanto em questão de detalhes de cena e diferença de idade quanto Loucos de Paixão (White Palace), de 1990. Dirigido por Luis Mandoki, e baseado em um livro de mesmo nome, o filme carrega na maior parte do tempo, um sentimento onírico, nos primeiros minutos conhecemos o personagem Max (James Spader), já pré-estabelecido como um homem rico, solitário e organizado, que ao som de um jazz suave vemos ele sair de casa e transitar pela cidade, dirigindo com um olhar vazio, chegando à uma festa com a mesma apatia que o moveu até ali.

Durante uma confusão com o pedido de hambúrgueres do restaurante 'White Palace', ele decide ir atrás de reparar o erro e encontra em um ambiente de trabalho estressante a garçonete Nora (Susan Sarandon).


Voltando à festa em que ele estava com os amigos o filme começa a nos mostrar com maestria os detalhes em cena que me impressionaram, (Assisti pela primeira vez com 17 anos e naquela idade fui pego por esse gancho), vemos um dos motivos da tristeza de Max, em uma mostra de fotos em slides a falecida esposa é vista e reconhecida por todos, aí vem o show de detalhes em cena, Max olha para a foto com o olhar apaixonadamente perdido, de alguém que ainda está na fase de luto, mesmo dois anos após o falecimento dela em um acidente de carro.

A cena crucial que faz jus ao gênero filme de romance vem logo depois, Max entra sozinho em um bar esfumaçado e barulhento, provavelmente para tomar a saideira da noite, e se reencontra por acaso com Nora, que ja levemente bêbada o reconhece e ele se deixa levar pelo carisma dela fora do estresse que foi o primeiro diálogo no White Palace, se senta ao balcão e trocam alguns conhecimentos um para o outro ainda alcoolizados, a maestria dos detalhes em cena volta aqui, com a câmera dando foco a um toque de Nora na perna de Max e o peso das palavras ditas acompanhadas de um olhar.

Loucos de Paixão
Loucos de Paixão

A seguir conhecemos a vida de Nora, que após pedir uma carona para casa dizendo morar na parte pobre da cidade é levada por Max com certa relutância. Vemos que a casa dela ao contrário da de Max é pequena e carece de organização, porém a solidão é algo que ambos têm em comum.

Seguimos com mais detalhes em cena, de toques e olhares que dizem mais do que as palavras de duas pessoas ainda sobre influência do álcool.

A tensão sexual se inicia, ficando claro que a noite será apenas para dormir, então o sentimento onírico se faz presente no meio do sono de ambos quando com maestria o ato sexual é consumado, novamente com foco nos toques, mãos rígidas entrelaçadas, movimentos e ângulos de câmera perfeitamente colocados pra dar foco no sentimento de cada um.

Assim se inicia a paixão, com a sobriedade vinda no dia seguinte, a vida dos personagens toma um novo rumo, porém barreiras são colocadas e precisam ser superadas pelo casal, de um lado Max é rico, vem de uma familia judia tradicional e que ainda têm expectativa de que ele arrume uma parceira condizente com a idade e classe social, sabemos no dia seguinte que ele tem 27 anos e Nora está prestes a completar 44 anos.

Nora se mostra um mulher independente, vemos isso no modo como ela fala com Max que em certos momentos se mostra incapaz de fugir dos modos impostos pela família. Novamente ressalto aqui toques, como o close-up de uma mão rígida sendo tocada por uma mão calma e olhares fixos depois de uma fala severa, aqui se fazem tão importantes quanto os diálogos em si.

Loucos de Paixão
Loucos de Paixão

O filme segue essa tensão de classes sociais e diferenças de idade até o fim, em nenhum momento Nora abre mão de quem ela é, inclusive na própria aparência, vemos pêlos nas axilas de Nora em devidos momentos e isso não incomoda Max, porém deixa esclarecido no nosso inconsciente que são um dos pequenos detalhes que a família dele não aprovaria. A visão política de Nora também não os agrada e acaba virando o estopim para o relacionamento cair em um momento crucial que a faz pensar que não há compatibilidade dela na vida de Max, há uma subversão no ultimo minuto do filme que deixo ao espectador ver por si mesmo, entendemos que a paixão entre duas pessoas não pode ser barrada, seja por opiniões contrárias de familiares ou amigos.


Por fim temos a conclusão de um romance que agrada ao público em geral e nos da essa lição de moral, que provém de escolhas difíceis mas necessárias pra se construir um relacionamento que agrade ambas as partes. Um filme que da o pontapé inicial para os romances da década de 1990, em ambientação, química de casal, temas abrangidos e atuações magníficas vindas da dupla principal.


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